MEMÓRIAS BV| O fatídico dia em que aviões caíram em Boa Vista

Três dos quatro aviões envolvidos no acidente aéreo: pousos forçados devido ao mau tempo, resultando na morte de um dos pilotos

 

O dia 4 de abril de 2007 parecia mais um como qualquer outro na pacata Boa Vista. O inverno tinha recém-iniciado e por isso, o tempo estava nublado. Mas uma notícia surpreendente tirou a tranquilidade da capital: “Quatro aviões caíram em diversos pontos da cidade”.

Antes de prosseguirmos, importante lembrar que na época a internet não era como a de hoje. Não havia Facebok ou Whatsapp. O Orkut era a rede social mais popular do Brasil, aliada ao Messenger (“MSN”), serviço de mensagens instantâneas. Ainda assim, a notícia se espalhou rapidamente pela cidade, à época com cerca de 280 mil habitantes.

Vamos aos fatos: naquele dia, oito aeronaves Super-Tucano A-29 da Força Aérea Brasileira (FAB) retornavam após três semanas na Base Aérea da Serra do Cachimbo (Pará). Tratava-se do 1º Esquadrão do 3º Grupo de Aviação – “Escorpião”, e seus pilotos estavam entre os melhores da instituição militar.

Pararam para abastecer em Manaus (AM) e depois seguiram em direção à Base Aérea de Boa Vista (atual “Ala 7). Quatro conseguiram pousar na base, seguindo o planejado. No entanto, conforme já citado, o tempo estava nublado. E os quatro demais pilotos foram surpreendidos por uma forte tempestade, com trovoadas e ventos fortes, o que acabou dificultando a visibilidade e a manobra dos pilotos.

Um dos aviões, um A-29 Super Tucano, colidiu com uma antena de transmissão de telefonia celular, vindo a perder altitude. A aeronave era conduzida pelo 2º Ten Av Fernando Wilmers de Medeiros, que com sua expertise, evitou que a mesma caísse em área residencial, conseguindo conduzi-la até um terreno próximo à hoje conhecida como “Praça do Chefão”, no River Park.

O piloto ainda tentou se ejetar do veículo, seguindo os procedimentos técnicos da aviação militar. Mas o paraquedas não abriu a tempo. Outra versão, no entanto (ainda mais macabra), dá conta que a ejeção aconteceu no sentido oposto, ou seja, em direção ao chão. O militar morreu com a queda. 

 

Pânico e alvoroço no bairro

Uma das aeronaves caiu próximo à "Praça do Chefão", no River Park |FOTO: Eduardo Andrade


O fotógrafo Eduardo Andrade, que à época trabalhava no jornal Roraima Hoje (atualmente, apenas em versão online) e foi um dos primeiros profissionais da imprensa a chegar ao local. Ele estava na redação do jornal quando recebeu a informação e, claro, a missão de ir cobrir a pauta.

“Fomos eu e repórter Alberto Rolla, que era da editoria de esporte, mas que estava na redação no momento. Ao chegarmos lá na praça, nos deparamos já com um forte esquema de segurança da polícia e dos bombeiros e muitos curiosos. E bem no chão da praça, vimos um lençol branco que cobria algo. Só poucos minutos depois que nos demos conta que ali se tratava de um corpo”, conta.

Eduardo utilizava um equipamento bem simples: uma câmera digital compacta com pouca resolução. Ainda assim, aproveitou-se de um “vacilo” de um dos peritos da polícia e conseguiu se aproximar para fotografar a aeronave. A imagem chegou a ser vendida a outros veículos de imprensa fora do Estado. “Não fiz do piloto. Não tive coragem. Era uma cena bem ‘pesada’”.

Eduardo Andrade foi um dos primeiros profissionais da imprensa a chegar ao local da queda no River Park: "Não fotografei o corpo do piloto. Era uma cena bem pesada" | FOTO: Arquivo Pessoal


A essa altura, o pânico já tomava conta dos moradores dos bairros Caçari e Paraviana. As aulas na Escola Estadual Vitória Mota Cruz, cerca de poucas quadras do local do acidente, tiveram que ser interrompidas e os alunos foram mandados para casa. E nas casas próximas, muitos decidiram sair para outros bairros, devido ao medo de que “o avião explodisse”.

 

E as outras aeronaves?

Outra aeronave pousou na região do Água Boa, próxima à BR-174 (sentido Manaus) |FOTO: Eduardo Andrade


Enquanto fotografava, Eduardo recebeu a notícia de que outros aviões também tinham caído. “Soubemos que um tinha caído na região do Água Boa. Eu e o repórter entramos no carro e fomos até lá, mesmo sem saber exatamente onde foi a queda. Mas logo vimos um caminhão do Corpo de Bombeiros e decidimos seguir”.

Os dois repórteres se perderam do caminhão, mas seguiram os rastros do veículo até chegar ao local da queda. Lá, outra aeronave Tucano estava meio que “enterrada” num areal. Equipes da Polícia Civil, Rodoviária e dos Bombeiros já estavam no local.

Um terceiro avião caiu próximo no km 525 da BR-174, sentido Venezuela, ficando bastante avariado. Só o quarto avião conseguiu pousar com segurança, ainda que numa condição de emergência, numa pista particular de uma empresa de táxi-aéreo.

 

Esta pousou às margens da BR-174, próxima ao Parque de Exposições (sentido Pacaraima) 

Desfecho e legado  

A Força Aérea Brasileira abriu procedimento para investigar as circunstâncias dos acidentes. A conclusão foi mesmo que o mal tempo foi o principal agravante, dificultando a condução por parte dos pilotos, resultando nos poucos de emergência. Mas Fernando de Medeiros foi aclamado como herói. 

No dia 6 de julho daquele mesmo ano, a Prefeitura de Boa Vista denominou a então Praça das Artes como “Praça Tenente-Aviador Fernando de Medeiros”, localizada anexa à Praça de Alimentação da avenida Ene Garcez, próxima ao Portal do Milênio. O espaço foi totalmente revitalizado e no dia 02 de dezembro foi renomeada para “Praça Moisés Lima da Silva (Picote)”.


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