Apresentado no Teatro Municipal, espetáculo foi fruto de um acordo de cooperação técnica entre o Instituto Boa Vista de Música (IBVM) e a Universidade Federal de Roraima (UFRR) |
Romance, aventura, terror, fé e muita alegria. Todos esses elementos foram reunidos e
sintetizados em forma de música e atuações impecáveis, resultando na belíssima ópera
“Dulcineia e Trancoso – Como é que a peça começa?”, apresentada nesta
quinta-feira (16) no Teatro Municipal, totalmente produzida e estrelada por
estudantes e egressos do Curso de Música da Universidade Federal de Roraima
(UFRR), em parceria com o Instituto Boa Vista de Música (IBVM).
A ópera é uma tragicomédia inspirada na obra do escritor Ariano Suassuna, com libreto
de W. J. Solha e composta por Eli-Eri Moura. A peça é parte do movimento
armorial, que busca valorizar a cultura nordestina (leia mais abaixo), unindo elementos
da cultura ibérica e do nordeste brasileiro, proporcionando uma experiência
artística rica e única para o público.
O enredo da peça gira em torno de Trancoso, o protagonista, que tem a missão de proteger duas rochas mágicas – A Pedra do Reino e A Pedra do Príncipe, que possuem poderes especiais. Como antagonista, uma temível (e “afrontosa”) Morte, busca eliminar tais artefatos, visando acabar com o “fanatismo”. Por sua vez, Dulcineia é uma jovem sonhadora tentando compreender seu propósito. A narrativa é apresentada pelo Dono do Circo, além de Ariano (sim, o próprio!) e seu herói, Miguel de Cervantes.
Espetáculo foi composto quase que integralmente por estudantes e egressos do Curso de Licenciatura em Música da UFRR |
A montagem em Boa Vista foi idealizada pela professora Wenderson Oliveira e teve em seu elenco principal Fernando Ciello (Trancoso), Nathália Lago (Dulcinéia), Santiago Páez (Ariano), Manoel Oliveira (Cervantes), Awancer Lima (Bozo), Violeta Castro (Morte), Ítalo Raphael (Dono do Circo) e Hemily Marques (Compadecida). Alunos da disciplina de Canto Coral completam o espetáculo com vozes bem harmonizadas, além de interagirem com o elenco. A Orquestra Sinfônica do IBVM, sob regência do maestro Beany Cabrera, foi responsável pela base musical.
Para Violeta,
a “Morte” e que também assina a direção cênica da ópera, o resultado no palco
foi incrível, que selou um longo processo exaustivo, complexo, porém proveitoso,
pois foi fruto de muita persistência, seriedade, companheirismo e comprometimento
de todos os envolvidos na obra.
“A gente
se sente parte de uma coisa antes mesmo da apresentação acontecer. E é um marco
também, né, para a cultura aqui no estado, apresentando essa que foi a primeira
ópera dentro do movimento armorial, sendo apresentada pela primeira vez em Roraima.
Nós estamos muito felizes por a inaugurarmos e acreditamos que é o primeiro
espetáculo de muitos que serão apresentados daqui para frente”, disse Violeta.
Violeta Castro ("Morte" e diretora cênica do espetáculo): "Um marco para a cultura de Roraima" |
No papel
de Dulcineia – e com grande experiência com os palcos, sobretudo com a música
lírica, a musicista Nathália Lago acredita que o atual cenário artístico no
Estado encontra-se em plena ebulição e transformação, onde muitos estão ousando
e mostrando que Roraima não difere dos grandes centros em termos de
espetáculos.
“A gente
está se arriscando a fazer outros tipos de espetáculos, ainda mais ousados e
mostrando que a gente tem músicos, artistas de qualidade aqui no nosso Estado e
que a gente está pronto para oferecer espetáculos com uma qualidade semelhante
dos grandes centros. E é um privilégio muito grande apresentar essa obra
amorial, que prestigia muito os ritmos brasileiros, nessa conexão entre a
música erudita e a música popular brasileira”.
Nathália Lago, a Dulcineia: "Estamos prontos para oferecer espetáculos com uma qualidade semelhante dos grandes centros" |
O
Movimento Armorial –
Trata-se de uma expressão artística idealizada por Ariano Suassuna e integrado
por intelectuais e artistas do nordeste brasileiro. O objetivo sempre foi criar
uma arte com autenticidade regional, valorizando as tradições populares
nordestinas.
Por sua
vez, a música armorial é caracterizada pela fusão de elementos da música de
concerto com elementos da música popular, utilizando instrumentos tradicionais
e melodias inspiradas nas manifestações culturais do Nordeste. Com sua proposta
inovadora, o Movimento Armorial e a Música Armorial tiveram um impacto
significativo na cultura brasileira, colocando em evidência a riqueza e
diversidade das artes populares nordestinas.
Cooperação
Técnica
Beany Cabrera, regente do espetáculo e diretor musical do IBVM: "Por estar recheada de ritmos brasileiros, sobretudo nordestinos, esta ópera foi um desafio" |
Em
setembro de 2022, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) e o Instituto BoaVista de Música (IBVM) firmaram um convênio, visando garantir que os alunos e
professores do IBVM recebam apoio pedagógico do Curso de Licenciatura em Música.
Em contrapartida, o IBVM garante suporte técnico e de logística às ações e
projetos culturais da universidade.
A ópera “Dulcineia
e Trancoso” foi mais um evento resultado desse acordo de cooperação técnica. Para
o regente do espetáculo e diretor musical do IBVM, Beany Cabrera, a obra
valorizou a cultura brasileira, principalmente da região nordeste, sendo
apresentada por jovens determinados que fizeram um trabalho de qualidade.
“O IBVM
valoriza o que é nosso, né. Nós temos um repertório de música erudita, mas nós
valorizamos também o que o Brasil tem. Então, essa ópera, por ser brasileira e
estar recheada de ritmos brasileiros, sobretudo nordestinos, foi um desafio. Além
dos ótimos solistas, nós tivemos algumas pessoas que não tinham experiência com
os palcos, mas que aceitaram o desafio e conseguiram concluir com qualidade
esse desafio. Foi uma experiência única e um grande marco para a nossa cultura”,
destacou o maestro.
Segundo
a musicista Euterpe, professora do Curso de Música, essa parceria entre UFRR e
IBVM tem sido grandemente produtiva. “Nós estamos recebendo os músicos do
Instituto, que têm todo um trabalho de formação desde a base, que é a infância,
e que agora têm essa oportunidade de integrar a Orquestra de Câmara da
Universidade Federal de Roraima e conquistar o nível superior e contribuir com
o nosso curso, fortalecendo também esse movimento de orquestras dentro do nosso
curso e no Estado”.
DEZ
ANOS
A ópera
também integra as comemorações de dez anos do Curso de Licenciatura em Música
da UFRR. E no próximo dia 22, será apresentado um novo espetáculo na Igreja de
Santa Cecília, no Município do Cantá. Segundo Euterpe, será um recital de
música de artistas locais.
“O dia
22 de novembro é o dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos do Brasil.
Então, queremos convidar a todos para prestigiarem esse recital, que vai contar
com obras de compositores roraimenses. Será uma linda festa que também celebra
os dez anos do nosso Curso de Música. Celebrem conosco esse momento especial”.
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Confira mais fotos do espetáculo:
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