Espetáculo "Mulheres Sagradas" foi apresentado no último sábado (18), mostrando toda a beleza, arte e ancestralidade feminina ao longo da história |
Há 13 anos me formei em Jornalismo e o meu Trabalho de Conclusão de Curso em 2011, foi exatamente sobre a Identidade Cultural de Boa Vista. E para quem me conhece, sabe o quanto sou apaixonado pela cultura de povos, costumes, danças e suas crenças. Sabe que amo divulgar eventos e conhecer a história de lugares e passo horas conversando com artistas da terra.
Recentemente, recebi o convite do Portal Boa Vista de escrever artigos sobre a cultura desse povo do Norte. E como dizer não, para algo que está enraizado na minha história e na minha vivência do dia a dia? Porque para mim, cultura é viver, trocar experiências e ultrapassar limites, mas sempre respeitando cada cultura e seus povos.
Então, vamos lá porque esse meu primeiro artigo fala sobre o espetáculo "Mulheres Sagradas", que abriu o Projeto Teatrando na noite deste sábado, 18, no Teatro Municipal de Boa Vista. Ele é promovido pela Prefeitura de Boa Vista e a ideia é mostrar que a cidade tem grandes artistas locais, que se entregam em cada apresentação ao público e que precisam cada vez mais serem valorizados pela nossa sociedade.
E não podia ser melhor, um espetáculo musical no mês delas abrindo esse projeto que já chega, chegando! Mulheres guerreiras, índias, brancas, negras e pardas, de todas as idades que abrilhantaram o palco do Teatro Municipal, que foi dirigido pela diretora e professora de dança Ruth Santana, que veio de Brasília e tem mais de 30 anos de carreira, em parceria com a produtora roraimense e coordenadora do espetáculo, Julianne Azevedo.
Em Brasília, o espetáculo está na 4a. Edição e agora Ruth Santana chegou para fazer uma temporada em Boa Vista em parceria com o Espaço Cultural Maktub, onde decidiram integram mais de 20 artistas mulheres que vieram de Brasília/DF, como das artistas locais de vários seguimentos que puderam mostrar suas peças artesanais indígenas e ainda fazer um show musical indígena, pop hop, jazz, samba, Música Popular Brasileira e balé clássico em homenagem a todas as mulheres.
A ideia foi mostrar que elas estão conquistando cada vez mais o seu espaço em todas as áreas e principalmente na artística. Deixando uma mensagem de fortalecimento do papel da mulher na sociedade e o combate à violência.
A mensagem do espetáculo foi de fortalecimento do papel da mulher na sociedade e o combate à violência |
Mulheres Sagradas fez uma bela abertura, com a pajelança feita pela matriarca da etnia Macuxi Vanda Domingos, de 64 anos. Em seguida, o show musical mostrou as três fases da mulher, que foi representada na infância pela atriz e bailarina Manuela Nogueira, 10 anos. Na fase adulta pela sua própria mãe Julianne Azevedo, de 40 anos que está grávida de 4 meses e a terceira fase da mulher, foi representada pela diretora Ruth Santana, que está com 63 anos, mostrando o processo de avó, filha e neta.
Mais confesso que o que abrilhantou ainda mais o palco, foi quando Julianne que tem 16 anos de carreira e está grávida, começou a mostrar suas habilidades com a dança no samba de gafieira e também na dança cigana. Deixando um recado para o público presente, que a mulher pode e deve fazer tudo que ela quiser, inclusive na própria gestação.
Num breve bate papo de bastidores, Julianne confessou que a dança está presente na sua vida desde 2007 e já acompanhou outras duas gestações. Ela contou que a dança faz bem nesse período e que não a impede de fazer nada, pelo contrário, para ela a dança é algo prazeroso e saudável e ficou mais alegre quando viu que o público interagiu.
Outro ponto marcante foi ouvir o poema “O Cravo e a Rosa”, sendo declamado na voz da atriz musical Clara Zion, que começou a mostrar seu talento em 2019. E olha que pelo pouco que venho observando, essa moça vai longe na área artística e posso considerar ela um dos ícones fortes da cultura local de Roraima.
No palco, a artista declamou o poema voltado ao combate de violência contra a mulher, porém, eu nunca imaginaria que essa mensagem pudesse ser passado por uma cantiga antiga “O Cravo e a Rosa” e que por sinal, foi super bem interpretada na voz de Clara Zion e tenho a certeza que a mensagem tocou no coração de várias mulheres presentes.
A artista conta que quando pensou nessa cantiga cantada na infância para brincar, olhou de um outro ângulo pelo espetáculo falar sobre mulher e de acordo com Clara, como geralmente a mulher é lembrada como flor, como tudo que é muito coração e amor. Essa cantiga fez ela olhar sobre um relacionamento tóxico do Cravo e da Rosa e de mulheres que já passaram por um relacionamento desses em que o cravo é gentil, a contar seus sonhos e compartilhar, mas no decorrer do tempo, a mulher vê que não era gentileza e sim uma prisão.
E a Rosa nesse papel, gostava de dançar e cantar principalmente, mas o cravo com aquela violência, tratada de maneira sutil, impedia com que ela vivesse e assim, a Rosa se tornou uma pessoa amarga e a reclamar com Deus. Até que ela ouviu uma voz que vinha do peito e que gritava, e essa voz a artista declamou podendo ser Deus, sua fé ou uma força de vida que existe na Rosa, que são várias mulheres que nunca puderam dizer o 180.
Todas as mulheres que subiram no palco, se destacaram em cada apresentação. Mas outra que também chamou a atenção, foi a dançarina Manuella Saldanha, da Academia Master Class, que fez um show de artistas mulheres consagradas no mundo pop hop, como Madonna, Britney Spears, Lady Gaga e Beyoncé, que além da música, já chegaram até a protagonizar produções cinematográficas.
Bem, eu queria poder falar mais sobre esse espetáculo Mulheres Sagradas. Mas tenho a certeza de que ele voltará em breve, levando essa mensagem de luta e igualdade a todas as mulheres. E espero voltar outras vezes por aqui, para contar mais sobre esse mundo cultural da nossa querida Boa Vista.
* Wandilson Prata é jornalista e colaborador do Portal Boa Vista
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