“A SECA E A QUEIMADA”| Milena Makuxi prepara música em defesa do meio ambiente e dos povos originários

 

A proposta é lançar single e videoclipe no próximo dia 19 de abril - Dia dos Povos Indígenas |FOTO: Fernanda Sales

Em dias tenebrosos em que a fumaça toma conta de todo o Estado de Roraima, uma voz surge para reforçar a conscientização pela proteção do meio ambiente: a cantora Milena Makuxi, que está preparando um single da canção “A Seca e a queimada” e que logo estará disponível em seu canal no Youtube e nas plataformas digitais.    

Pelo amor do nosso pai/ Não toque fogo, rapaz/ O prejuízo está demais/ A seca e a queimada andam juntas/ E a fome vem atrás”. Esses versos da canção, lançada originalmente em 2005 no CD “Caxiri na Cuia – O Forró da Maloca” têm sido atemporais. E segundo Milena, os povos originários da floresta são os mais afetados com a ação das queimadas.

“A letra conta uma situação tão atual em Roraima, que se tornou o estado com maior número de incêndios nesse mês de fevereiro, bem como reflete a estiagem vivida nos últimos meses”, explica a artista, que já lançou uma versão da música em seus perfis das redes sociais, apenas voz e violão.  

Milena conta ainda que, quando fez a gravação do vídeo, havia um cenário de cinzas no entorno da Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI), que também foi afetada pelos incêndios. “Senti a necessidade de fazer uma versão minha dessa música para dar alusão às reivindicações dos povos indígenas quanto à questão ambiental e justiça climática”.

A proposta é lançar o videoclipe de “A Seca e a Queimada” no próximo dia 19 de abril - Dia dos Povos Indígenas. Toda a produção ocorre de forma independente. “Inclusive, estou à disposição para futuras parcerias e produções”, comenta Milena.


A Seca e a Queimada 


Pelo amor do nosso pai

Não toque fogo rapaz

O prejuízo está demais

A seca e a queimada andam juntas

E a fome vem atrás


Olhando os campos

Olhando as serras

Olhando a mata

É só fumaça


Olhando os rios

Olhando os lagos

Já não tem nada

É só fumaça


Então os povos

Não tem mais roça

Não tem mais nada

E o tempo é só fumaça


 

Representatividade e luta pelos povos originários

Milena, em apresentação no Festival Mormaço Cultural 2023 |FOTO: Fernanda Sales


Natural de Manaus (AM), mas criada na comunidade indígena Roça - Terra Indígena São Marcos, Milena Makuxi viveu maior parte de sua vida em Boa Vista. É cantora, compositora, guitarrista, artesã e produtora de eventos culturais, tendo iniciado sua carreira artística em 2017, como vocalista na Banda Kruviana. Também é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Desde que iniciou na música já participou como vocalista de diversos projetos musicais como o Coral Madrigal, Banda Paricarana, Raízes Líricas, Sociedade de Esquina e recentemente lançou sua carreira solo com apresentações em diversos eventos em Boa Vista e em outros municípios de Roraima.

“Minha intenção na música é difundir a arte indígena. Tenho um repertório bastante eclético, mas me sinto muito fortalecida quando conheço e faço releituras de compositores indígenas. Espero que as pessoas se permitam conhecer esse universo, busquem conhecer a história e música dos povos originários. Faço música não para enriquecer ‘meus bolsos’, mas sim para nutrir minha alma e meus sonhos. Me sinto honrada com as pessoas que participam e se divertem junto comigo nessa vivência musical”.

Além disso, Milena acredita que as pessoas têm notado a urgência e a importância de contemplar artistas indígenas dentro do cenário musical e cultural de Roraima, o que lhe inspira à responsabilidade de levar consigo essa representatividade por meio da arte, sobretudo a música.

“Quando canto sobre a natureza, não é somente porque é bela, mas porque precisamos cuidar para que nunca deixe de ser assim. Quando levo o parixara para cima dos palcos, levo também a voz de meu povo, a nossa língua, a nossa cultura.  O carimbó, por exemplo, é um gênero musical indígena e sinto que as pessoas, sobretudo do Pará, se identificam muito com esse ritmo caribenho. É contagiante, dançante, e mostra a diversidade que encontramos aqui no nosso estado”.

A artista também afirma que sempre busca mesclar em seu repertório influências de compositores nacionais e internacionais, tendo em vista a vivência intercultural presente na tríplice fronteira nortista (Brasil – Guiana – Venezuela), que passam pelo reggae, pop, rock e pela MPB.

 

“Temos uma missão dada por nossos ancestrais”

Milena: "Acredito que todas as pessoas deveriam se sentir responsáveis pela busca de melhorias para as suas próprias vidas" |FOTO: Fernanda Sales


Milena ressalta que faz parte de uma geração de jovens indígenas, cuja missão é manter vivo o legado deixado por seus antepassados que envolve a proteção da natureza e de seu próprio povo. E isso tem sido refletido em seu trabalho artístico.

Ela conta que ainda nos tempos de escola participou de diversas manifestações em prol de merenda escolar, contratação de professores, livros atualizados, saneamento básico e por uma educação de qualidade. E essa luta contínua faz a juventude indígena ser protagonista da própria história, onde é mais que necessário lutar por seu povo, pela preservação do meio ambiente e pelas futuras gerações.

“Essa missão é nos nada desde cedo porque nossos ancestrais lutaram muito para garantir os direitos que temos hoje. Acredito que todas as pessoas deveriam se sentir responsáveis pela busca de melhorias para as suas próprias vidas. Afinal, Roraima foi coberta pelos incêndios e nuvens de fumaça. A estiagem dos rios afeta a população inteira. Os peixes já estão contaminados por mercúrio. Tudo isso afeta diretamente à população roraimense, não só os povos indígenas”.

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