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Apresentado por Maria Gabriela Villalba (Maga), o evento percorre diversos territórios da Venezuela, revelando a diversidade de suas danças e histórias populares |FOTO: Arquivo Pessoal |
Uma viagem pela ancestralidade, resistência e boa arte são alguns dos elementos que o público irá prestigiar no espetáculo de dança “Percurso por minhas raízes”, apresentado por Maria Gabriela Villalba (Maga), artista e migrante venezuelana de origem indígena Wayüu. O evento ocorre nesta sexta-feira (23), a partir das 19h, no Teatro Jaber Xaud. A entrada é gratuita.
Nesta apresentação dançante e teatral, Maga levará o público a embarcar em uma travessia sensível e potente, a começar por uma performance com música inédita de sua etnia, evocando os cantos da terra vermelha da Guajira, fronteira entre Venezuela e Colômbia.
A partir dessa conexão espiritual e sonora, o espetáculo percorre diversos territórios da Venezuela, revelando a diversidade de suas danças e histórias populares — da costa ao interior, do Caribe às montanhas — exaltando a riqueza cultural de um país que pulsa mesmo além das fronteiras.
“’Percurso por minhas raízes’ é um ato de afirmação identitária e cultural no contexto migratório, buscando não apenas o resgate das tradições, mas também a criação de pontes interculturais com o povo de Boa Vista. É uma celebração viva, dançada e sentida de um povo que resiste, canta e se reconstrói todos os dias, mesmo longe de casa’, conta a artista.
O espetáculo é promovido pela A Dança da Lua (saiba mais abaixo) e é um dos projetos aprovados pela Lei Paulo Gustavo (LPG), de Incentivo à Cultura - contrapartida do município pela Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (FETEC). Para conferir mais sobre a iniciativa, siga o perfil no Instagram: @adancadalua.
Uma travessia entre raízes, resistência e arte
Maga, nos bastidores de “Jayeechi II: Transcendental” |FOTO: André Rayro |
María Gabriela Villalba González, conhecida como Maga, é uma artista, bailarina, cineasta e educadora de origem indígena Wayüu. Antes de cruzar a fronteira rumo ao Brasil, foi conhecida na Venezuela sob o nome artístico de La India Gaby, levando aos palcos nacionais e internacionais a força das culturas ancestrais por meio da dança, do teatro e da performance.
Sua trajetória começou ainda criança, entre os cantos tradicionais e as danças do povo Wayüu. Ao longo dos anos, construiu uma carreira sólida e vibrante na Venezuela, participando de festivais na Europa (Bélgica e França), trabalhando com companhias como Danças Típicas Maracaibo e desenvolvendo trabalhos sociais e culturais com comunidades, especialmente entre 2006 e 2016.
Ao chegar a Boa Vista, encontrou um cenário marcado por desafios — especialmente para migrantes e artistas estrangeiros. "Este é um estado que ainda está aprendendo a conviver com fluxos migratórios tão diversos como os da Venezuela, Cuba e Haiti. Cheguei como profissional, mas precisei reconstruir meu espaço a partir da escuta e da persistência", relata.
Seu reconhecimento no Brasil foi impulsionado por três pessoas-chave, que acolheram sua arte e lhe abriram as portas com generosidade e respeito. No entanto, Maga também enfrentou experiências em que sua presença artística foi usada de forma oportunista, por pessoas que buscavam se promover às custas de sua ancestralidade.
Apesar disso, ela não se rendeu à burocracia que muitas vezes impede o reconhecimento de diplomas e experiências estrangeiras no Brasil. “Na Venezuela, qualquer brasileiro teria seu título aceito para trabalhar. Aqui, precisei provar o tempo todo que sou artista — mesmo já tendo vindo pronta para atuar”, desabafa.
Com resiliência, Maga fundou o projeto “A Dança da Lua”, ensinando dança a crianças e adultos, sempre com base no corpo consciente, nas raízes espirituais e no respeito à diversidade. Também criou a D’Luar Maged Production, sua produtora audiovisual que hoje promove desde vídeos corporativos com drones até curtas de forte cunho cultural e indígena.
Entre seus feitos no Brasil, destacam-se os premiados Jayeechi I e II, o espetáculo “Percurso por Minhas Raízes” — vencedor da cota migrante na Lei Paulo Gustavo (2024) — e sua participação ativa em projetos como o Festival Literário do SESC, Mostra Picuá, Boa Vista Junina, entre outros.
Sua obra é uma travessia viva entre territórios, memórias e resistência. É também um grito de beleza e afirmação: de que a arte pode curar, reconstruir e reexistir mesmo quando fronteiras tentam calá-la. “Minha arte é meu território. É onde danço minha história, filmo minha cultura e ensino meus filhos a nunca esquecerem quem somos”.
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Percurso por minhas raízes
Data: 23/05/2025
Horário: 19h
Local: Teatro Jaber Xaud - Sesc Mecejana
Entrada: Franca
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