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Com peças desenhadas por artistas como José Casado, da etnia Taurepang, a linha de roupas conta com duas coleções: Amazônica e Amanhecer Ancestral |FOTO: Divulgação/Moda Kauwê |
Engana-se quem pensa que moda é algo restrito apenas a Paris, revistas especializadas ou coisa de influenciador digital. O conceito é amplo e tem a ver com o modo de viver, os costumes e atitudes. No extremo norte do Brasil, mais precisamente no município de Pacaraima (RR), uma empreendedora da comunidade Kauwê do Alto Miang pensou em expandir a arte e a cultura local dentro desses elementos, para também fomentar a economia e a sustentabilidade. Surge então a Moda Indígena Kauwê.
Karynna Stael Makuxi é a visionária à frente dessa iniciativa. Coordenadora de turismo da comunidade, ela conta que a ideia veio a partir de viagens que fazia a trabalho, participando de eventos de turismo Brasil à fora, sempre utilizando roupas próprias, pintadas à mão por artistas indígenas como José Casado, da etnia Taurepang.
Vendo que as roupas despertavam o interesse de muitas pessoas, dada a beleza, as cores e os grafismos característicos indígenas, Karynna viu aí uma oportunidade empreendedora. Porém, o projeto ainda ficou engavetado por cerca de dois anos, enquanto a ideia era amadurecida e pensada com todo o cuidado. Até que ela compartilhou a proposta com outras mulheres da comunidade.
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Cada peça evoca a conexão com a natureza e a ancestralidade dos povos originários de Roraima |FOTO: Divulgação/Moda Kauwê |
Surge então a ideia de lançar o projeto por meio de um desfile na comunidade. A data escolhida: o 17º Festejo da Comunidade do Kauwê, ocorrido em fevereiro deste ano. Um sucesso, tanto em termos de apresentação quanto em vendas. E a Moda Kauwê veio com duas coleções que evocam a beleza e a ancestralidade indígena: Amanhecer Ancestral e Amazônica.
A coleção Amanhecer Ancestral, por exemplo, conta com peças feitas de linho, posteriormente pintadas à mão pelo artista José Casado. Já a linha Amazônica é feita de malha fina com estampas que representam as riquezas da fauna e flora da região.
“A recepção do projeto dentro da comunidade foi ótima. Várias pessoas compraram logo no lançamento, dando o impulso que a gente tanto esperava. Tanto que as primeiras coleções saíram bastante, inclusive para fora do Estado”, comentou Karynna.
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Lançamento da Moda Kauwê, durante o 17º festejo da comunidade, em fevereiro deste ano |FOTO: Ericsson Silva |
Além de José Casado, Karynna tem buscado fechar parceria com outros artistas para abrilhantar novas peças com as pinturas e grafismos indígenas. A ideia é divulgar o trabalho desses profissionais, valorizando tanto a cultura ancestral quanto a arte indígena como um todo. Dessa forma, a comunidade Kauwê torna-se uma vitrine para Roraima, para o Brasil e para o mundo.
“Nosso intuito é divulgar o nome desses e outros artistas. Estou em contato com um profissional macuxi e com outro da etnia Wai-Wai, que são muito talentosos e que farão as próximas coleções. Mas o seu José é o artista principal, porque está comigo desde o princípio e vai nos acompanhar em todos os lançamentos”.
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José Casado, da etnia Taurepang, é o artista responsável pelos grafismos indígenas da Moda Kauwê |FOTO: Divulgação/Moda Kauwê |
Visão empreendedora
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Karynna Stael: “Por meio das consultorias com o Sebrae-RR, nós adquirimos técnicas de gestão e com certeza isso contribui muito para o sucesso da Moda Kauwê” |FOTO: Arquivo Pessoal |
Entre essas iniciativas estão o Empretec e o Inova Amazônia. Além disso, ela integra o projeto Empreender Conecta, desenvolvido pela empresa FKD Influencers em parceria com o Sebrae Nacional. Trata-se de uma campanha de marketing de influência que visa promover o empreendedorismo de forma acessível e inspiradora.
“Por meio das consultorias com o Sebrae-RR, nós adquirimos técnicas de gestão. Fui indicada para fazer parte do Empreender Conecta para falar sobre a Moda Kauwê e, com certeza, tudo isso tem contribuído para o sucesso desse nosso projeto”.
Desafios e foco no futuro
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Meta é criar uma loja física e um ateliê na própria comunidade do Kauwê, em Pacaraima |FOTO: Divulgação/Moda Kauwê |
Atualmente, a loja física da Moda Kauwê fica na casa de Karynna, em Pacaraima. Porém, a empreendedora planeja levá-la no próximo ano para a comunidade Kauwê, inclusive montando um ateliê para envolver outras mulheres na confecção das roupas. Para isso, ela busca comprar máquinas e contratar a mão de obra.
Também será firmada parceria quanto à confecção de roupas em linho, que no início do projeto, eram compradas no atacado, passando logo para as mãos do artista para a criação dos grafismos. A proposta agora é que as mulheres da comunidade Tarau Paru, também de Pacaraima, produzam as roupas “do zero", com variedade de modelos.
Outra novidade será a criação da linha masculina e a inclusão de etnojóias (bijuterias artesanais indígenas), em estilos diversos, como madeira e coco, que serão vendidas nas próximas coleções e que vão fortalecer ainda mais a marca.
Karynna ressalta que essa expansão do projeto vai levar maior representatividade, aos povos originários e aos aliados da cultural ancestral. Ela complementa que também serão obras inspiradas nos saberes, nos grafismos e na vivência dos homens indígenas.
“Cada peça é pensada para carregar orgulho, identidade e conexão com a terra. Vestir Kauwê é vestir a história viva dos povos originários com respeito, estilo e autenticidade”, finalizou.
- Para conferir mais sobre o projeto, siga o perfil no Instagram: @modakauwe.
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